terça-feira, 14 de julho de 2015

Coerência

A coerência e a subjetividade 

Direção: James Ward Byrkit
Título Original: Coherence
Duração: 89 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Ago/2014

Há pouquíssimo tempo comentei sobre os filmes estilo Mindfucker ao escrever sobre a série Black Mirror, o que resultou numa indicação amiga de um ótimo exemplar do gênero. E ontem, enfim, fui intrigado e entretido pelo recente e pouco conhecido Coerência (Coherence no original - sem título em português, tradução livre e absolutamente literal de minha parte).

Vou me abster de falar sobre quaisquer detalhes do roteiro para não diminuir em nada o prazer de quem vier a assistir o filme. Em relação a outros quesitos técnicos, basta dizer que são bastante adequados: atuações sem destaque, mas efetivas; trilha sonora por vezes equivocada, mas inofensiva; edição truncada em um ponto ou outro, mas em linha com a proposta; cinematografia escura e opção pela câmera tremida para esconder limitações, mas que, mais uma vez, não impedem em nada a apreciação da história.

Coerência é essencialmente diálogo e enredo, ambos absolutamente "coerentes" e bem trabalhados. O filme cai no didatismo em pouquíssimas instâncias, ainda que em algumas delas de maneira artificiosa e afetada, mas não chega nem perto de ser reiteradamente ofensivo como, por exemplo, Triângulo do Medo. Expõe seus mecanismos básicos sem muita sutileza, mas deixa que a trama guie o filme e não que seus artifícios ou princípios o façam.

Como quanto menos se falar desse filme tanto melhor e como há ainda muitas linhas a preencher nesse espaço, dar-me-ei a liberdade de divagar sobre o processo da crítica em si. Há filmes aos quais assisto que entram na fila para ser resenhados e lá ficam por um período não determinado. Alguns estão na espera há pelo menos uns cinco anos e provavelmente nunca chegarão ao blog. Outros, como esse, não esquentam o banco sequer um dia.

Alguns filmes exigem bastante pesquisa, leitura de várias outras resenhas e estudo do assunto sobre os quais eles tratam, sendo que o texto final acaba ficando longe de ser uma opinião pessoal, ainda que reflita perfeitamente a minha avaliação do filme. Outros, como esse, sequer chegam a ser analisados e as críticas sobre eles não passam de uma recomendação positiva ou negativa. Ou são devidamente avaliados exatamente pelo que acredito que sejam, independente do entendimento de outras pessoas.

A verdade é que alguns filmes simplesmente não geram uma reação emocional tão forte quanto outros, não importa o quão excelente sejam (os ordinários e sofríveis, no entanto, nunca passam incólumes). Por mais que durante a análise ou a crítica a subjetividade seja suprimida, ela sub-repticiamente marca presença ao ser a força motriz da seleção não só de sobre o que escrever, mas muitas vezes do que você vai ou não assistir, ler ou jogar.
  
Coerência é um bom exemplo da subjetividade em ação. É daqueles filmes que, longe de serem obras-primas, conseguem fazer aflorar a curiosidade e o interesse. Exigiu minha atenção e conseguiu mante-la, e impediu até certo ponto que eu ficasse me perguntando o tempo todo se estava gostando ou não do que estava vendo, se os diálogos estavam sendo bem aproveitados, se as atuações estavam prejudicando a credibilidade da história etc. Mal entrou na fila de espera para ser assistido e rapidamente está sendo resenhado (recomendado talvez seja a melhor palavra).

Terminada a sessão aqui em casa, o filme continuou marcando presença, primeiramente na forma de uma discussão sobre seus pontos mais obscuros, validação dos entendimentos diferentes de cada um dos expectadores e uma avaliação crítica conjunta sobre o desfecho. Posteriormente, a mecânica central inspirou outros debates não relacionados diretamente ao enredo. Um bate-papo conceitual que deu origem a outras teorias e possíveis histórias. No meu caso particular, é difícil não gostar de um filme que enseje essas reações e acredito que para uma grande parte dos meus amigos também o seja, então que fique a dica!

PS: Não consegui me lembrar de quem foi que me indicou o filme. Então deixo aqui meu agradecimento genérico a todos meus tradicionais companheiros cinéfilos até que haja alguma reivindicação de autoria da sugestão. :-)

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