Originalidade oculta
Santiago Nazarian escreveu um divertido livro entitulado Mastigando Humanos sobre as elocubrações de um crocodilo vivendo nos esgotos de São Paulo. Faz muito tempo que li e não me lembro praticamente de nada do livro, apenas de que gostei bastante dele. Na mesma época, comprei um livro anterior do autor chamado Feriado de mim mesmo e só agora fui lê-lo.
Não sei se,nesse tempo, fui eu que a cada nova estória fui imprimindo menos valor a cada uma que somava-se a pilha de estórias anteriores ou se realmente o autor ainda não tinha amadurecido nesse livro e a originalidade mostrada em Mastigando não estavam ainda presentes em Feriado.
Uma das maneiras de se prender a atenção de alguém é criar uma "lacuna de conhecimento" que ative seu instinto natural de curiosidade e a estória de Feriado de mim mesmo faz isso por premissa: existe algo acontecendo que você não sabe o que é. Uma estória sobre paranóia em que um sujeito solitário vivendo em um apartamento claustrofóbico começa a acreditar que alguém está invadindo sua casa e alterando sua rotina.
O grande desafio aqui não é atiçar, mas sim manter a curiosidade aguçada, dado que seu leitor provavelmente já sabe os possíveis resultados desse tipo de roteiro. A trama básica subjacente pode ser: violência (alguém realmente está perseguindo a pessoa), sobrenatural (espíritos ou outras entidades são responsáveis pelos eventos), psicológica (a outra pessoa na verdade é a própria pessoa) ou fantasiosa (a outra pessoa é ela mesma, mas deslocada no tempo). Se você estiver apontando para qualquer uma dessas possibilidades em algum momento ou insinuando quaisquer uma das outras, você está jogando em terreno conhecido e sua solução não terá um retorno recompensador para o leitor, o qual sabe disso e começa a desconfiar já nas primeiras páginas.
O grande problema é que, mesmo que sua solução seja diferente dessas quatro apresentadas, não apontar para essa possível nova em nenhum momento faz com que o leitor se desinteresse mesmo assim. E essa é a falha fatal de Feriado, que somada a um protagonista cuja companhia não é das mais agradáveis, torna o livro arrastado e repetitivo mesmo que no conjunto havia um quê de originalidade na obra.
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