segunda-feira, 30 de julho de 2007

Feriado de mim mesmo

Originalidade oculta

Santiago Nazarian escreveu um divertido livro entitulado Mastigando Humanos sobre as elocubrações de um crocodilo vivendo nos esgotos de São Paulo. Faz muito tempo que li e não me lembro praticamente de nada do livro, apenas de que gostei bastante dele. Na mesma época, comprei um livro anterior do autor chamado Feriado de mim mesmo e só agora fui lê-lo. 

Não sei se,nesse tempo, fui eu que a cada nova estória fui imprimindo menos valor a cada uma que somava-se a pilha de estórias anteriores ou se realmente o autor ainda não tinha amadurecido nesse livro e a originalidade mostrada em Mastigando não estavam ainda presentes em Feriado.

Uma das maneiras de se prender a atenção de alguém é criar uma "lacuna de conhecimento" que ative seu instinto natural de curiosidade e a estória de Feriado de mim mesmo faz isso por premissa: existe algo acontecendo que você não sabe o que é.  Uma estória sobre paranóia em que um sujeito solitário vivendo em um apartamento claustrofóbico começa a acreditar que alguém está invadindo sua casa e alterando sua rotina. 

O grande desafio aqui não é atiçar, mas sim manter a curiosidade aguçada, dado que seu leitor provavelmente já sabe os possíveis resultados desse tipo de roteiro. A trama básica subjacente pode ser: violência (alguém realmente está perseguindo a pessoa), sobrenatural (espíritos ou outras entidades são responsáveis pelos eventos), psicológica (a outra pessoa na verdade é a própria pessoa) ou fantasiosa (a outra pessoa é ela mesma, mas deslocada no tempo). Se você estiver apontando para qualquer uma dessas possibilidades em algum momento ou insinuando quaisquer uma das outras, você está jogando em terreno conhecido e sua solução não terá um retorno recompensador para o leitor, o qual sabe disso e começa a desconfiar já nas primeiras páginas.

O grande problema é que, mesmo que sua solução seja diferente dessas quatro apresentadas, não apontar para essa possível nova em nenhum momento faz com que o leitor se desinteresse mesmo assim. E essa é a falha fatal de Feriado, que somada a um protagonista cuja companhia não é das mais agradáveis, torna o livro arrastado e repetitivo mesmo que no conjunto havia um quê de originalidade na obra.

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