sexta-feira, 29 de julho de 2011

Capitão América: o primeiro Vingador


Sem grandes expectativas

Direção: Joe Johnston
Título original: Captain America - The first Avenger
Duração: 124 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Jul/2011

Creio já ter um tempo que não me deparava com um subtítulo que dissesse tanto sobre o filme a que se refere como o de Capitão América: O primeiro Vingador. A palavra de ordem aqui é "Vingador" e ela deixa claro que estamos falando de um filme que é mais um "aperitivo" de duas horas para acalmar os mais ansiosos até que chegue o filme-evento Os Vingadores no verão (setentrional) de 2012 do que uma obra com valor próprio.

Em Hulk e Homem de Ferro, as referências à reunião dos heróis no futuro, que ainda não era certa na época, apareciam praticamente apenas em uma cena curta pós-créditos, enquanto a história daquele personagem em si desenvolvia-se isoladamente. Homem de Ferro 2 aumentou a dose e colocou Nick Fury e a Viúva Negra para participarem do cenário principal, mas ainda assim, eles não eram "a" estória per se. Em Capitão América, o mote de Os Vingadores abre e fecha o filme, enquanto o roteiro principal serve apenas de pano de fundo para uma sequência de referências.

Nos Supremos de Millar e Hytch, a primeira edição foca quase que exclusivamente no Capitão América na segunda guerra mundial e serve de introdução para o restante do enredo, mas parte do charme desse "prólogo" são as batalhas exageradas e o superlativismo dos diálgos que prenunciam o clima seguinte da série. A hiperviolência dos quadrinhos dá lugar à quase inexistência de violência e mesmo da "morte" - em Capitão América ela é limpa, eficaz e praticamente desprovida dos horrores que poderia se esperar do período histórico que está sendo retratado.

Longe de ser um fervoroso fã de violência gratuita, mas armas que desintegram instantaneamente os inimigos tornam as batalhas desprovidas de realismo ou simplesmente sem emoção. Porém, a pior consequência dessa escolha, é a incapacidade do filme de criar o nível de ameaça que o Caveira Vermelha deveria representar, pois quando ele não está "evaporando" pessoas, está, em um ato de maldade máxima, deixando lacaios para trás, mas não sem antes garantir que ele tivesse um meio de tranporte para fugir - nada realmente malévolo. O Caveira Vermelha é o Coringa do Capitão América, um nazista cruel e psicótico que deveria ser o símbolo do malmas até o Agente Smith de seu intérprete Hugo Weaving é mais ameaçador - e isso não é nem de longe culpa do ator.

Além disso, os diálogos são bastante simplórios, previsíveis e desprovidos de inspiração. As poucas tiradas que ganharam um pouco mais de atenção foram aquelas que Tommy Lee Jones ganhou: irônicas, rasteiros e com um ótimo timing. Talvez a simplicidade das falas espelhe o clima "inocente" do filme, mas isso não é desculpa para requentar frases clássicas ou imitar cenas de outros filmes supostamente como "homenagem" (qualquer expectador com um pouco mais de vivência consegue diferenciar plágio e falta de imaginação de tributo ou homenagem). 

Por outro lado, com quase toda a história desenrolando-se nos anos 40, Capitão América ganha créditos por criar um clima nostálgico no melhor estilo do mais recente X-men. É interessante ver o maquinário futurístico funcionando à base de relés e mostradores analógicos toscos, além do estilo "velha guarda" e bom moço do próprio Steve Rogers. Ainda que a falta de adrenalina nas batalhas não seja compensada pelo charme das outras cenas, pelo menos garante a ambientação correta.

Outro ponto positivo, ou um negativo que foi evitado, é o fato de o filme ser sobre um super-herói que usa a bandeira dos Estados Unidos como uniforme e ainda assim passar longe das pataquadas patrióticas típicas do cinema estadounidense. Talvez justamente por ser tão obviamente "americano" é que a equipe teve um cuidado maior de não criar um clima ufanista ou excessivamente nacionalista, construindo um filme focando em Steve Rogers e não no Capitão e tornando nobres e heróicos os sentimentos da "identidade civil", sem necessariamente deixá-los ser confundidos com os valores de um país. Pode ser que justamente por isso, a primeira metade do filme que foca na transformação gradual de Rogers no super-herói flua muito melhor que a segunda, mais carregada em ação.

E por fim: Chris Evans, quem diria... resolveu finalmente se esforçar e interpretar efetivamente um personagem, ao invés de só mostrar o físico e fazer caras e bocas ridículas, vide Celular, Todo mundo em pânico ou mesmo Quarteto Fantástico. Seu Steve Rogers não é nada menos do que eu poderia esperar do personagem e sua interpretação é honesta, consistente e sólida. Uma inesperada e agradável surpresa.

Não tenho certeza se vale o ingresso do cinema, mas alugar o DVD (ou Blu-Ray para ser mais moderno) algum tempo antes da estréia dos Vingadores não seria uma má idéia. Capitão América vale como introdução para o próximo filme, mas a ausência de uma ameaça real e um roteiro mais sólido para alinhavar as referências à sequência, tornam-no uma experiência até agradável, mas desprovida de sentido como obra isolada.

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