segunda-feira, 30 de julho de 2007

Vernon God Little

Exageros texanos

Vernon é um adolescente texano vivendo em uma cidade pequena conhecida apenas como a "capital do molho barbecue do meio-oeste do Texas" até que um dia seu melhor amigo dizima metade dos colegas de classe e estoura o próprio crânio. Sem um assassino para crucificar, Vernon, mesmo com evidências pifias, torna-se o bode expiatório da chacina.

A metralhadora satírica de D.B.C Pierre atira para todos os lados, mas é realmente o espetáculo midiático que transforma até mesmo as mais vis tragédias em entretenimento o principal alvo. Um festival de personagens bizarros desfila ao longo da estória e depois de um tempo você já sabe que, por mais ameno que possam parecer, eles vão acabar reduzido a algum vício norte-americano que o autor gostaria de execrar.

Escrito em um idioma regionalizado (o "texano"), em muitos momentos é quase impossível entender exatamente o que o autor está querendo dizer - li a maor parte no original e alguns capítulos na versão em português. Infelizmente, apesar da ótima tradução, muita coisa se perde por causa da quantidade absurda de gírias e expressões locais que dificilmente conseguem soar parecidas no nosso idioma.

Vernon God Little ganhou espaço na estante por ter vencido o Man Booker Prize, o principal prêmio literário dos países de língua inglesa (não incluindo o maior deles - os Estados Unidos) e porque algumas críticas comparavam o protagonista com Holden Caulfield de O apanhador no campo de centeio, um dos livros que mais gostei de ler. 

Infelizmente, Vernon está tão próximo de Holden, quanto Bruna Surfistinha de Capitu e ainda que a revolta juvenil seja muito próxima, Vernon não tem a profundidade do personagem de Salinger. Além disso, o ritmo do livro é descompassado e se em alguns momentos a leitura flui, em outras ela fica presa em reminiscëncias desnecessárias ou em eventos que não são nem interessantes em si mesmo, nem contribuem para o avanço do roteiro como um todo.

Vernon God Little até tem alguns lampejos de brilhantismo, pequenos excertos de fina ironia e diálogos inteligentemente imbecis. Contudo, em grande parte é só uma sequëncia de personagens caricatos e eventos absurdos ou incoerentes. Não me arrependo de ter ido até o final, principalmente porque depois de um tempo, você acaba se apegando a Vernon e querendo saber qual será seu destino, mas também não é o tipo de livro que eu não poderia passar sem ter lido.

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