sexta-feira, 12 de março de 2010

Ilha do medo

Sombrio e meticuloso quebra-cabeça

Direção: Martin Scorcese
Título original: Shutter Island
Duração: 138 min
Idioma: Inglês
Lançamento: fev/2010
 
Como em quase todas as resenhas, é difícil dissertar sobre a qualidade de um filme sem estragar a experiência de quem ainda não o viu, mesmo quando essa não é calcada em "surpresas" ou "segredos". Quanto menos você souber de um bom filme, mais significativa e compensadora tende a ser essa experiência. Então, você pode assumir que seu leitor já assistiu ao filme e comentar cenas, divagar sobre referências e símbolos e dissecar o roteiro como se fosse uma discussão pós-saída do cinema ou apenas indicar genericamente as principais característica para recomendá-lo (ou não). Escolho a segunda para que ninguém se pegue eventualmente surpreendido por uma informação indesejada. Reservemos possíveis discussões sobre detalhes desse (e de outros) filmes para a seção de comentários.

O enredo é simples e sob certo ângulo não muito original: dois policiais navegam até uma ilha que abriga um manicômio para investigar o desaparecimento de uma das pacientes. Som, fotografia, cenografia e direção de arte constroem o ambiente e a atmosfera perfeitos que por si já valem o filme. Alie-se a isso um bom elenco com ótimas atuações, em especial de Di Caprio e Ruffalo, a dupla de protagonistas, e você já garantiu um bom entretenimento.

Além disso, o roteiro é muito bem amarrado: todas as cenas estão no filme por algum motivo, todos os detalhes fazem sentido, nenhum diálogo é desperdiçado e a história vai construindo-se pouco a pouco e sempre. Algumas cenas, no entanto, especialmente as mais próximas do final, estendem-se um pouco mais do que necessário e prejudicam ligeiramente o ritmo do filme. No mais, a construção do quebra-cabeças é tão meticulosa e detalhista que o processo, ou o "como" a história é contada, acaba sobressaindo-se à história em si.

No fim das contas, é um prazer tanto deixar-se imergir no universo do filme e sua história, quanto imaginar o trabalho de construção de cada uma das cenas pelo diretor com suas diversas leituras e referências a outras obras do gênero.

2 comentários:

Henrique JB disse...

"Ilha do Medo" me ganhou logo pelo trailer. Aquele clima de mistério, com um segredo a ser desvendado...

Quando assisti, não pude deixar de me imaginar vendo um videogame, e não um filme. Minha impressão é que o roteiro me tinha desafiado a desvendar a trama. Logo de início já se conhece o fator principal - tudo gira em torno do protagonista. A questão a se descobrir é "como" e "porquê". Então - não sei se com outras pessoas aconteceu isso - fiquei atento às pistas, investigando, mais ou menos como se estivesse jogando "Silent Hill" ou outros games do gênero.

O aspecto de filme antigo que Scorsese imprimiu também é interessante, como se ele não quisesse refilmar uma trama que já foi abordada antes, e sim homenagear as obras que influenciaram essa história. Gostei.

Rodrigo Zago disse...

SPOILER

Já tinha lido o livro quando vi o filme, então longe de estar atento para desvendar o mistério em si, fiquei prestando atenção em todo o trabalho de construção do mesmo. Ver os atores representando personagens que estão representando é um prazer a cada cena, ainda mais com bons profissionais na tela. Algumas falas são inseridas às vezes como contexto da encenação, mas ao mesmo tempo servem também como um diálogo do médico com o paciente. Como, por exemplo, quando Ben Kingsley, interrogado por DiCaprio, fala sobre métodos modernos que estão testando com os pacientes que usam da criação de todo um contexto ou algo parecido e, assim fazendo, responde à pergunta do detetive e também tenta trazê-lo para a realidade.
Realmente é um filme muito bom que transpôs perfeitamente um ótimo livro.

Muito boa análise, Henrique!
Espero contar mais vezes com sua participação por aqui!

Grande abraço!